O que é isso de Modelagem
Quando comprei a minha primeira máquina de costura, há alguns anos atrás, nunca tinha ouvido falar de modelagem nem de moldes. Aventureira como sou, como primeira experiência na máquina de costura, quis fazer um pijama para o meu filho. Sim, porque não faço a coisa por menos, começo logo com algo a sério. Encontrei um vídeo no You Tube que me dizia para colocar umas calças que tivesse em casa por cima do tecido, desenhar o contorno com giz de alfaiate (o estojo Ikea que eu tinha comprado trazia giz), e cortar. E eu assim fiz, sem ouvir falar de valores de costura, moldes, desenho... peguei na tesoura e cortei!
Lá cosi as calças e até ficaram direitas, mas é claro que ficaram pequenas e curtas. Faltavam os calores de costura e o valor da baínha. Não serviram ao meu filho, mas guardei-as para quando servirem à minha filha. Depois das calças, como se sentia confiante, lancei-me a fazer a camisola, no mesmo tecido (que não era malha). Para quem não sabia nada de costura (nada mesmo), até consegui desenhar mais ou menos (directamente no tecido, é claro) o formato da camisola. Mas quando foi para cortar e coser é que tudo ficou complicado, e não consegui fazê-la.
Desisti, e arrumei a máquina na despensa, onde esteve durante os 2 anos seguintes, e de onde só saiu no ano passado quando comecei a ter aulas de costura. E o resto é história, como se costuma dizer.
Mas este post hoje é para falar de modelagem, e eu aprendi o que era modelagem na primeira aula de costura. Qualquer peça de roupa começa com um desenho, feito em papel com lápis, réguas e esquadro, desenho esse que é baseado numa forma de corpo, também feita em papel. Esse desenho é transformado em várias outras peças de papel, que são colocadas em cima do tecido e por onde se corta o tecido.
Os moldes são essenciais para a maior parte das pessoas que costuram. A excepção a isto são as modistas muito experientes (muito mesmo), que não precisam de moldes e desenham as peças com giz directamente no tecido. Para todos os restantes comuns mortais (eu incluída), é preciso ter moldes.
Os moldes encontram-se em revistas (como a Burda), livros, websites de designers independentes que vendem moldes em papel ou em pdf, que se imprimem em casa em papel A4, e se montam como fazendo um puzzle.
Eu utilizo todas estas fontes, e também desenho os meus próprios moldes. Para isso, tenho tido aulas de modelagem (na Creative Stitches, em Oeiras), onde tenho aprendido este mundo que é a criação de moldes de costura.
Para começar é preciso ter uma tabela de medidas, com medidas exactas de várias partes do corpo. Consoante o sítio onde se procure uma tabela, podem existir diversas tabelas diferentes, mas o importante é manter as medidas proporcionais. Por exemplo, nas aulas trabalho com uma tabela, num livro de modelagem que tenho em casa existe outra tabela um pouco diferente, e se eu procurar mais vou encontrar várias outras, todas com alguma diferença entre si. Existe um standard mundial, publicado pela ASTM, que serve para que exista harmonia entre os tamanhos de toda a roupa que se faz e vende no mundo. Mas mesmo isto não é garantia de que todas as marcas de roupa a utilizem, e isso vê-se quando numas lojas as roupas nos assentam de uma maneira e noutras lojas assentam de outra maneira. As tabelas da ASTM têm que ser compradas, e o preço não é muito simpático, por isso o essencial é escolher uma tabela que nos pareça proporcional e adequada à roupa que queremos fazer, e utilizá-la sempre.
Como exemplo, eu criei a minha própria tabela adaptando as tabelas do livro "metric pattern cutting for children's wear and babywear" com a tabela das aulas de modelagem. Depois de muuitas voltas e ajustes, finalmente cheguei a uma tabela da qual consigo criar as roupas que imagino.
Já tenho este livro há algum tempo, mas só o consegui começar a usar depois de começar as aulas de modelagem, porque só aí é que entendi como o utilizar. Desde então, tenho passado a utilizá-lo regularmente. Com a tabela de medidas, e com instruções (de livro, aulas, etc), constrói-se uma base com as medidas exactas do corpo.
Essa base habitualmente passa-se para cartolina, para se conservar melhor, porque servirá para todos os desenhos de roupa que se farão no futuro.
Para se desenhar uma nova peça de roupa, contorna-se a base do corpo para um papel novo, e desenha-se por cima a nova peça de roupa, com todos os pormenores que existam. É aqui que se define como vai ser o "cair" da peça no corpo, que espaço a pessoa terá para se movimentar, que pormenores terá e onde serão colocados, como deverá ser cortado o tecido para que a peça vista como se pretende, etc.
Este desenho é o desenho final da roupa, quando estiver consturada, por isso quando o desenho está feito, copia-se para papel vegetal, para se separar os diversos componentes, e acrescentar os valores de costura. Por exemplo, umas jardineiras são desenhadas inteiras, mas para costurar é preciso separar as diversas partes: frente das calças, costas das calças, cós, peitilho, forro do peitilho, alças, etc.
A estas partes acrescenta-se os valores de costura e das baínhas, corta-se, e coloca-se em cima do tecido. O molde é preso com alfinetes, ou com pesos em cima (eu uso pedras), e o tecido é cortado à volta do molde.
Para a modelagem é essencial algum material específico, como papel, papel vegetal, lapiseira, borracha, canetas de várias cores, fita-cola, calculadora, fita-métrica, régua comprida, esquadro geométrico e réguas curvas, para desenhar curvas perfeitas nas cavas, decotes, etc. Este é o meu material. O papel que uso é este rolo da Ikea, da secção de criança.
E a modelagem é isto, é um mundo aberto à criatividade, baseado em geometria, mas livre para o gosto e imaginação de cada um.
Susana